A 4ª Revolução Industrial tem processos personalizados

Postado em: 18 / 08 / 2015

Bruno-Latchague3 Bruno Latchague

O rápido avanço das tecnologias industriais transformou nossas vidas. Desde a diversificação das economias agrárias para produção de produtos e serviços, a tecnologia industrial tem ajudado a aumentar a produtividade e o padrão de vida nos países desenvolvidos e emergentes. Atualmente a fabricação de produtos industriais ainda corresponde a 16% do produto mundial bruto e um maior desenvolvimento tecnológico está de novo prestes a virar o mundo industrial de cabeça para baixo – desta vez na forma de digitalização da fábrica.

Seja em termos de segurança, qualidade ou acessibilidade dos produtos diários, nós consumimos, sem pensar duas vezes, produtos que poderiam parecer milagrosos para as gerações passadas. A tecnologia que alimenta as nossas instalações de transporte moderno, smartphones, equipamentos médicos e fornecimentos de alimentos está na altura da inovação industrial atual.

A última onda dessa inovação industrial foi descrita em vários termos como “Indústria 4.0″, “Internet Industrial de Coisas”, ou até mesmo a “4a revolução industrial”. O objetivo fundamental é o mesmo – estabelecer uma conectividade constante entre a Internet e cada recurso envolvido na fabricação e entrega de produtos. Indo além dessa conectividade, a “fábrica digital” cria um mundo virtual compartilhado em que as simulações realísticas e a tomada de decisões são possíveis no que diz respeito a, por exemplo, reduzir o consumo de recursos, energia e tempo.

Apostas: reorientação na criação de valor global

Embora a revolução digital já tenha causado impacto significativo na indústria, seus benefícios ainda não se estenderam aos 7 bilhões de habitantes do nosso planeta. Podemos esperar que essa nova onda de inovação irá fornecer uma qualidade de vida melhor à civilização? E poderemos reduzir o impacto ambiental do setor ao mesmo tempo? Sim, acredito que isso é possível, e essa é a visão que desejamos compartilhar com nossos clientes nas próximas décadas.

Por exemplo, a empresa coreana Asia Agricultural Machinery adotou a digitalização como idioma universal para design e colaboração. Sua estratégia digital para projetar e produzir um portfólio de produtos aprimorado contribui para a melhoria de equipamentos agrícolas que são mais personalizados, conectados e sustentáveis do que antes e são capazes de produzir mais para alimentar o nosso planeta.

As empresas do setor industrial muitas vezes são vistas pelos investidores apenas como simples fontes de lucro. Mas para os cidadãos e funcionários, e seus países como um todo, elas possuem mais responsabilidades. Nos últimos 40 anos, o grande foco que foi colocado para combater a concorrência e reduzir custos não apenas prejudicou a estrutura social, mas também afetou a indústria em si, e sua capacidade de mudar. Essa desilusão pode ser combatida efetivamente se quisermos adotar uma visão de longo prazo e mais sustentável que não esteja limitada aos confinamentos das paredes das fábricas.

Países emergentes como o Brasil, Rússia, Índia e China já reconheceram o valor disso e viram retornos econômicos enormes, não apenas desenvolvendo suas capacidades de fabricação, mas também em termos de design. Mas agora enfrentam aumentos salariais, preocupações ambientais e conformidade de controle de qualidade.

Se trabalharmos juntos, a riqueza criada pela indústria poderia atender às necessidades de todos no planeta. Para obter isso, devemos produzir os produtos certos para cada região, no preço certo, com a qualidade certa e na quantidade certa. Esses produtos poderiam ser criados usando processos novos e mais sustentáveis, com trabalhos altamente qualificados e, portanto, sustentar o crescimento da economia em cada região. Para cada país e para cada empresa, o fator principal para o sucesso está na capacidade de se adaptar às rápidas mudanças nas demandas: os ganhadores serão aqueles que entenderem e fabricarem mais rapidamente do que os outros.

A fábrica digital tornará isso possível para abordar essas questões. Ao implementar o conceito de fábrica digital, os humanos novamente tornam-se o foco principal, é dada carta branca para suas funções cognitivas e podem se concentrar na inovação. A digitalização dos processos industriais já está a caminho, mas as somas investidas até agora continuam pequenas quando comparadas com a digitalização de outras funções corporativas, como finanças e engenharia. A fabricação agora está ganhando importância e está definida para distribuir mais globalmente a riqueza que gera.

Essa tendência possuiu implicações importantes para a indústria e líderes nacionais. A fábrica digital torna possível uma nova abordagem. Os processos industriais podem ser conectados, personalizados e alterados facilmente de forma dinâmica através de uma rede de empresas industriais. Essa estratégia, denominada “Manufatura como um Serviço” ou MaaS, dá às empresas a possibilidade de responder às mudanças rapidamente na demanda ou em condições de marketing. As empresas industriais podem agora permanecer conectadas com seus clientes, fornecendo a eles valor durante toda vida útil do produto. Portanto, aumentando também, o impacto, na indústria, dos produtos para os serviços que os suportam.

As empresas industriais que aplicam a abordagem MaaS podem criar grandes experiências de valor agregado para outras empresas ou para seus clientes em toda a vida útil do produto, a partir da entrega, suporte, reparos ou mudanças, até o fim da vida útil. Os produtos e serviços que se beneficiam da abordagem MaaS podem ser configurados e personalizados de forma mais fácil: os processos industriais podem ser analisados automaticamente e combinados para oferecer oportunidades para colaboração de valor adicionado. Uma empresa industrial pode oferecer muito mais do que apenas um produto; ela pode fornecer uma experiência holística que seus clientes finais apreciarão e não poderão ficar sem.

A fábrica digital também tem o potencial de criar um grande número de trabalhos qualificados, ou seja, “trabalhadores do conhecimento”, que serão liberados de tarefas repetitivas graças à digitalização, sistemas de computadores, equipamentos conectados diretamente à Internet e aos avanços em automação. Esse conjunto avançado de ferramentas tornará possível entregar os melhores produtos e serviços. Os países que forem os mais bem-sucedidos em atingir essa transformação serão aqueles que investirem na fábrica digital por meio da educação, inovação tecnológica e suporte para essa mudança cultural, para criar uma nova geração de trabalhadores e clientes.

Além das infraestruturas digitais genéricas, como acesso à Internet de alta velocidade, as empresas industriais devem investir em outras tecnologias de fabricação digital. O resultado, em termos de criação de trabalhos industriais qualificados, tornará possível desenvolver fabricação mais sustentável, com harmonia e economia de recursos necessários ao longo do ciclo de vida do produto.

Os profissionais deverão ser treinados para essas oportunidades e seus trabalhos devem evoluir relativamente rápido, pois este novo mundo de produção pode criar uma nova economia, para o benefício de todos.

Como a revolução “Lean” e outras iniciativas para a melhoria contínua, essa mudança levará pouco de tempo, mas com um pensamento positivo e determinação para investir nesse futuro, a “fábrica digital” tem o potencial de oferecer um crescimento sem precedentes e riquezas para o nosso planeta. Neste cenário, a tecnologia será fundamental para promover transformações.

Bruno Latchague é executivo sênior e vice-presidente da Dassault Systèmes

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