Tecnologia BIM reduz custos na construção de rodovias
Postado em: 30 / 06 / 2016
Marcus Granadeiro
Como avaliar o retorno do investimento ao mudar do processo tradicional para o baseado em BIM (Building Information Modeling) em um projeto rodoviário? Como justificar este caminho? Onde buscar os ganhos? Estas são questões que vem à tona para todos ao se defrontar com o dilema do BIM para infraestrutura.
A primeira dificuldade vem de onde buscar os ganhos. Como para criar o modelo BIM não é necessário cimento, ferro e nem maquinário de terraplenagem, normalmente o modelo BIM nasce dentro do escritório nas mesmas máquinas que detalham projetos, temos a tendência de associar o BIM à atividade de projeto, buscando o ROI (Return On Investment) exclusivamente nela.
Não há dúvida que, depois de trilhada a curva de aprendizagem e depois de definido o novo processo, a produtividade vai aumentar. Talvez o custo e prazo não venham a diminuir, pois haverá a tendência de agregar muito mais valor ao projeto, realizar mais simulações, fazer mais checagens, engenhar mais, entre outros. É certo que os primeiros projetos sairão mais caros, darão mais dor de cabeça. Desta forma, se os donos das empresas de projeto buscarem o retorno do investimento apenas na atividade de projeto sem saber valorar o seu diferencial ou o novo valor agregado, a chance de frustração será alta.
A busca da justificativa para o BIM exclusivamente na fase de projeto, a falta de visão dos benefícios nas demais etapas e a não compreensão das oportunidades são hoje os maiores obstáculos para a adoção do processo de BIM.
Qual é o valor adicional que o processo BIM agrega ao projeto, valor que pode justificar um aumento de custo e prazo do mesmo? Onde ele impacta nas demais fases da rodovia?
O primeiro grande ponto é a detecção de interferências. Nos edifícios é simples entender, porém, nas estradas parece mais abstrato. No entanto, é este um dos principais pontos de estouro de orçamento durante a fase de obra. O departamento de estradas do Estado de Wisconsin, nos Estados Unidos, publicou um estudo indicando um potencial de redução de até 30% nos custos das estruturas auxiliares e 25% nos custos de drenagem.
O estudo foi realizado com base em uma estrada projetada da forma tradicional e já construída. Na construção foram registradas mudanças por conta de interferências não detectadas em projeto, foram quantificadas quantas dessas interferências seriam possíveis de serem previstas por meio do processo BIM, e assim terem seus custos evitados.
Outro ganho muito representativo está na esfera administrativa. O BIM permite a integração do tridimensional com o cronograma (4D) e com o fluxo financeiro (5D), assim o planejamento também pode ser validado e refinado antes do edital ser publicado.
Em todos os locais adotados tem o reporte de um processo licitatório mais fluido, pois o grau de incertezas é drasticamente reduzido. Esse ponto poderia até ser visto de forma negativa há algum tempo quando muita transparência não era boa para os negócios, mas definitivamente, é o que nossa engenharia mais precisa hojel. No caso de um gestor, quanto que vale reduzir o risco do projeto com simulações ou conseguir tomar decisões com base em simulações ao longo do contrato? O BIM propicia isso.
Apenas os dois pontos colocados acima já seriam suficientes para responder as perguntas iniciais, porém, ainda existem muitas outras possibilidades de ganhos, principalmente na fase de operação. O modelo BIM deve ser imaginado como um “cofre vazio” no qual vai se depositando o conhecimento e a história do ativo. O projeto, as informações sobre a construção e a contínua informação sobre os dados operacionais formarão com o tempo um modelo BIM ideal para se otimizar o ganho com a rodovia.
Marcus Granadeiro é engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, presidente do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do ADN (Autodesk Development Network) e do RICS (Royal Institution of Chartered Surveyours).